sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Para a despedida do ano velho e daquele que cheira a novo.
VAI, ANO VELHO
Vai, ano velho, vai de vez
Vai com tuas dívidas e dúvidas
Vai, dobra a esquina da sorte, e no trinta e um,
A meia-noite esgota o copo
A culpa do que nem lembro
E me cravou entre janeiro e dezembro.
Vai, leva tudo: destroços, ossos,
Fotos dos ausentes, beijos de atrizes,
Enchentes, secas, suspiros, jornais...
VADE RETRUM, vai pra trás!
Leva pra escuridão quem me assaltou
O carro, a casa e o coração,
Não quero te ver mais, só daqui a anos,
Nos anais, nas fotos do nunca-mais.
Vem, ano novo, vem veloz,
Vem em quadrias, aladas, antigas
ou jatos de luz modernas, vem,
paira, desce, habita em nós,
tenho pressa de novidade, do que ainda estar por vir,
Vem com cavalhadas, folias, reisados, rezas,
bençãos e mandingas, fitas multicores, rabecas,
vem com uva e mel, e desperta em nosso corpo a alegria.
Escancara a alma, a poesia, e por um instante,
estanca o verso real, perverso
e sacia em nós a fome de utopia.
Vem na areia da ampulheta, no tempo que corre,
estando em nós, ausentes ou presentes
como uma semente que contivesse outra semente
ou do umbigo da gente como um ovo.
O sol, a gema do ano novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.
Adeus, tristeza: não te quero mais,
Até nunca mais!
A vida é uma caixa chinesa de onde brota a manhã.
Agora é recomeçar.
A realidade é urgente.
Entre flores e sementes
é permitido sonhar.


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